sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Diários Soberbos - Apenas sentimentos

- Só por curiosidade, como vai levar dois cafés nesse frio? – minha mãe perguntara ainda na cafeteira.

- È que minha namorada está com um pouco de medo de infestar seu café de lama, por causa da neve. – e sorriu.

Ótimo, ele tinha namorada, burra eu pensar que olharia para a garçonete mal educada.

- Obrigada, me desculpe por chegar assim, mas é que...Está muito frio. – e desapareceu.

- Desapontou foi minha filha?– e sim minha mãe já sabia que eu estava boba, boba por tamanha beleza naquele estabelecimento. Precisava de uma escola rápido, ou para ser mais precisa, pessoas.

- Azar o meu. Você é uma péssima mãe, repito, eu já disse que posso entrar em um colégio, eu posso me virar, eu não sei, só quero que me tire dessa esquina, e desse café o mais rápido possível.

- Você pode voltar para o Brasil se quiser.

- Vamos fazer um acordo? – cheguei meu rosto o mais perto dos olhos de minha mãe. – Elena, eu prometo, se eu for mal na escola, eu posso voltar, e não vou reclamar.

- Quem me garante que você vai cumprir?

- È minha felicidade em risco mãe, eu prometo que vou me esforçar o bastante esse último mês com as aulas de inglês com o Hutson.

- O juiz não vai gostar disso.

- Ele não vai gostar é de saber que você me tirou de outro país para me privar de estudar e me prender em um café chato, que não para de chegar pessoas, e sabe qual é a sua salvação? È que ainda entra pessoas interessantes.

- Tudo bem, você pode. Se você não for bem, você volta para o Brasil para morar com seu pai.

- Fechado. Agora eu vou subir, meu professor está chamando.

Já era noite, as luzes do meu quarto estavam apagadas, meu rosto apenas iluminado pela luz do luar, se direcionava apenas para a janela.

Levantei-me, e encostei-me ao vidro, meus olhos observavam as ruas cheias de casais, as luzes brilhavam nos prédios, o café dava lugar aos refrigerantes, cervejas, cinema, diversão,e eu estava apenas a sua espera. Ele havia ido muitas vezes depois daquele dia, e levado alguém junto consigo. E por uma parte gostava, porque eu sabia, que veria seu sorriso, e a minha maior vontade era de acordar, porque saberia que o veria de novo. Busquei minha cama como conforto, e meu diário estava ali, mas meu cansaço estava me dominando, mas em pouca palavras queria registrar um pouco de felicidade que ainda me restava, ou talvez esperança.

Querido diário, por um milagre, minha mãe resolveu me botar em uma escola, e espero que seja breve. E só de saber, que aquele garoto, aquele que eu olhei em seus olhos e vi o oceano, já tinha alguém nadando por lá. Já faz mais de um mês que o vira, e ainda não conseguia tirar aquela criatura da minha cabeça, mas quem ligava? Eu quero mais, e eu sei que posso conseguir. Minha capacidade de conseguir o que queria parecia menos eficiente quando ele entra naquele lugar, me sinto, impotente, e eu só sou capaz de me perguntar, onde está a velha Cristina coração de gelo?

Um mês depois.

Hoje era meu dia de folga, e como sempre eu ia fazer compras por Nova York, faltava apenas um dia, e eu já estaria fazendo meu colegial como uma adolescente normal.

Peguei minha calça grossa, meu casaco de costume, botei as luvas, e sair rumo a porta, e antes que minha mãe pudesse falar algo:

- Estou saindo, e não sei que hora volto, não seja má, eu não vou me embebedar, só vou comprar.

- Tudo bem. Quer um café?

- Vou atrás de algo mais gorduroso. Adeus.

EMPIRE STATE era maravilhosamente lindo, e muito enorme, pessoas pareciam formigas, mesmo no frio, passeando de um lado para o outro, correndo contra o tempo, cheias de agasalhos, e narizes vermelhos, misturando-se com os carros elegantes, e helicópteros a todo tempo carregando os empresários mais cobiçados de toda a América, e eu ainda estava a procura de alguém.

Era melhor correr, o sinal estava aberto. E antes que pudesse dar os primeiros passos, algo acontecera que não podia acontecer, e logo agora, e justo hoje, e como?

Era ele, com seu jeito inconfundível, e acima de tudo, estava sozinho, seus cabelos bagunçados, e seu casaco moletom junto com o capuz cobrindo seu rosto, cruzava comigo na faixa de pedestre, como será que estava olhando para ele? Eu o queria. Existia outra razão para falar algo fofo?

- Oi – e lá estava eu no outro lado da rua, e antes que pudesse virar para sentir-me retribuída por seu olhar, os carros passaram por entre nossos corpos, e desapareceu.

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