terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O começo.

O sol ainda batia em minha janela, minha cabeça voava mais alto que podia, o silencio ainda se fazia presente nas paredes de madeira do meu quarto, tudo estava tão vazio. Sabia que era lindo estar de volta, mas mesmo assim, queria ficar. Meu pai fizera essa proposta desde ultimo aniversário, ou seja, seu ultimo telefonema, reafirmou dizendo que agora eu podia fazer minhas escolhas, e que eu podia entender o que realmente aconteceu a 11 anos atrás, quando eu era apenas uma garota de 5 anos, forçada a dizer adeus a quem tanto amou, e talvez ainda ame. Nunca foi fácil pra mim, ter saído da minha cidade pequena e morar em uma grande metrópole, como Sacramento, foi o maior buraco de toda a minha juventude. E agora eu estava voltando, talvez seja melhor, ou pior. Meus sentimentos a partir dali estavam embaralhados e acorrentados dentro de mim, acarretei situações em que, hoje, eu não sei explicar. Tive que criar o meu novo laço, Hillary Timerson, a irmã mais velha de minha mãe Janeth Timerson, ela sim, soube me compreender e respeitar meu espaço, nunca o engoli o fato de ela ser minha nova mãe, e por isso eu estava decidida a parti e viver o que eu não tinha vivido, ou apenas continuar o que foi interrompido.
- Armanie, você está atrasada! Vamos botar as malas no carro, por favor! – Disse Hillary aos gritos.
- Eu já estou indo! Aguarde! – faltava apenas 2 horas e meia, e eu já estaria indo de uma vez. Enxuguei minhas lagrimas de dor, e abrir o sorriso, apenas repetia “eu vou ver Jack, vai dar tudo certo.”
- Assim não chegaremos a tempo Armanie! – Disse Hillary mais uma vez, enquanto estava descendo as escadas da nossa medíocre casa no subúrbio da cidade.
- Não está vendo que já estou descendo? Onde estão as malas? Não vejo a hora de ver meu pai, claro.
- Estão ali, perto da porta, seu casaco está pendurado mais a frente. Seu pai vai esperar, eu sei.
Pegamos as malas e fomos direto ao carro, Case estava logo ali, esperando-nos partir. Ele era o namorado da minha tia Hillary, era charmoso e gentil, era de aparência mais velha, com seus cabelos grisalhos, seus olhos eram negros e tinha pele branca como a neve, sarnas rodeavam seu rosto pelas maçãs de sua bochecha.
- Hill, vamos logo amor. Olá Manie! Como está? – Disse Case sorrindo e abrindo a porta para mim.
- Bem, maravilhosamente bem, e você? Está mais jovem, creio que é um creme novo. – disse entrando no carro, por entre o vidro, Case sussurrou: - Não precisa falar tão alto queridinha. – E dei um sorriso e forma de resposta, era impressionante seu senso de humor.

Ao chegarmos ao aeroporto, Hillary chorava oceanos, abraçava os ombros de Case enquanto fazíamos o check-in na impressa de aviação, estava realmente triste por deixá-la, nem que por um segundo passara em minha cabeça, que sentiria falta dela.
- Eu darei noticias Hill, não se preocupe. Sentirei sua falta, apesar de tudo. Obrigada – disse abraçando-a e desejando boa sorte.
- Você não... Precisa! – disse pausadamente, seus soluços pareciam maiores a cada instante, não conseguia mais falar nada.
- Ela acha que você não precisa ir. Ela ficará bem, prometo, vá! Assim perderá o volto Manie! Boa sorte! – Disse Case encorajando-me.
- Obrigada Case, darei noticias assim que puder.
- Tchau meu amor...! – disse Hillary finalmente.
Peguei-me olhando para o relógio inquietamente, faltava apenas 10 minutos para ir de vez. As pessoas falavam a cada minuto, tinha gente de todos os tipos. Meu nervosismo era tanto, que a sede tomava conta de mim, outra vez, infelizmente não havia bebedouro na sala de embarque, e não encontrara ninguém que me socorresse. Fui em direção ao vidro, para ver se Hillary podia me ver e trazer uma garrafa de água a tempo, até que alguém entrou e fitou-me de modo estranho e gentil. Sobre o ombro com a mão apoiada no vidro, logo, fiquei tão calma, meio que besta olhando para seu andar suave quanto uma cachoeira cristalina descendo de modo devagar por meio das rochas, nunca tinha me sentido assim, nem mesmo quando viajava de avião. Virei meu rosto inteiro e resolvi voltar para o meu lugar, ele estava sentando ali, perto da minha mochila. Seus olhos eram verdes como a grama resplandecente e brilhosa, seu rosto parecia ser desenhados de forma angelical, junto com seus cabelos pretos e bagunçados, sua veste era simples e bonita, vestia uma calça azul de cor manchada, com a camisa entreaberta no peito de botões dourados e listras pretas, seu sapato era todo branco, e um sorriso mais branco que o branco das nuvens. Fiquei alguns minutos olhando para o relógio, faltava apenas cinco minutos para que meu sufoco acabasse, para a minha surpresa ele falou em um belo sorriso e um sussurro, que de primeiro eu não entendi.
- Que horas são Armanie? – disse o garoto, a minha maior curiosidade, era saber como sabia meu nome, meu horrível nome.
- Primeiro como sabe meu nome? São 8:15 em ponto.
- Você é filha de Jack, Jack Timerson, não é? – disse o garoto ainda sorrindo.
- Claro. O que você quer? Como soube?
- Moro em Lillooet. A cidade é pequena, a gente sabe de coisas, meu nome é Harry, Harry Houston.
- Tudo bem.
E ficamos calados, por alguns instantes, minha sede agora aumentara e por minha sorte, ele tinha uma garrafa de água, comecei a olhá-la de forma estranha, queria ver de perto minha cara.
- Tenho duas garrafas, pode pegar uma. – Disse Harry entregando-me uma garrafa.
- Muito obrigada mesmo.


A viagem parecia tranqüila, não vira mais Harry depois da entrada no avião, fiquei exatamente na cadeira do corredor, minha ansiedade a partir dali, cessara de uma vez. Entrei em um sono profundo.

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